A manchete da Zero Hora de hoje — “Dólar e commodities em baixa derrubam o agro na bolsa” — resume o problema central da leitura econômica contemporânea: confunde o desempenho das ações com o desempenho do país.
O agronegócio brasileiro não está em baixa. É o motor da economia, aliás o único motor. Continua exportando, colhendo e gerando superávit, mesmo em meio à oscilação do câmbio e ao recuo momentâneo das commodities. O que caiu foi o valor financeiro atribuído às empresas na B3, e não a produtividade, a safra ou a força do campo.
O preço das ações segue a psicologia do mercado, não o ciclo das estações. Quando o dólar enfraquece e o investidor estrangeiro realiza lucros, os papéis do agro caem. Mas o milho continua brotando, a soja continua embarcando, e os frigoríficos continuam exportando. O que oscila é o humor de quem especula, não o trabalho de quem produz.
Essa diferença é o cerne do paradoxo da bolsa: a economia real e a economia de papéis se movem em sentidos opostos. Enquanto a produção avança, a especulação atrapalha; enquanto o país colhe, o mercado realiza.
Quando olhamos para os números globais, o descolamento é ainda mais evidente. O valor total das empresas listadas no mundo já supera em mais de 100 % o PIB global. Nos Estados Unidos, o mercado vale quase o dobro da produção. No Brasil, a bolsa representa menos de 40 % do PIB. Essa discrepância não é fraqueza; é sinal de uma economia ainda centrada naquilo que é tangível: terra, gado, energia, alimentos, indústria.
A queda das ações do agro, portanto, não anuncia crise, mas sim um ajuste nominal dentro de um ciclo financeiro. Quando o capital especulativo se recolhe, a economia real continua de pé. O campo brasileiro, com toda a sua amplitude e diversidade, não se mede pelo Ibovespa, mas pelo volume de grãos embarcados, pela geração de divisas e pelo trabalho silencioso de milhões de produtores.
O mercado pode girar como um cassino. A banca sempre ganha. Mas o agro, que alimenta o país e sustenta o saldo comercial, não pode depender da roleta da bolsa.
O ouro, porém, não joga. Ele apenas observa — e protege em silêncio.
